Há já muito tempo que gostava de ver em palco esta dupla de actores: Emília Silvestre e Jorge Pinto. Tinha ficado espantada com a cumplicidade entre ambos quando, há mais ou menos um ano atrás, tinha tido o prazer de os ver num colóquio lá na faculdade. Na altura não consegui ver O Avarento, mas desta vez o Dueto para Um não me escapou.
De um autor inglês, Tom Kepinsky, relembrei por momentos, antes do início do espectáculo algumas aulas de Drama Inglês do século XX e de como esta peça se lá enquadraria.
Tivemos acesso então a um consultório, a sermos espectadores de uma consulta de psiquiatria, voyeurs de um universo de emoções, recalcamentos e frustrações de uma mulher. E nós, fanáticos voyeurs, vibramos com essa permissão. Não obstante, a peça faz-nos pôr em causa a nossa vida: como reagíriamos se aquilo que mais nos dá prazer nos fosse retirado ou se, de um momento para o outro, fôssemos proíbidos de o fazer.
Acima de tudo esta peça joga imenso com a psique do espectador, ou não fosse o cenário um consultório psiquiátrico, mas vemo-nos envolvidos nos jogos das personagens, equacionando nós mesmos quais seriam as nossas reacções perante determinado fado.
Porque, no fim, apercebemo-nos de que todas as nossas acções culminam num máximo esgar na nossa vida e que aí, nesse exacto momento, enquanto uns de nós se deixam ficar pensando, não agindo, mergulhando numa obscura depressão, outros agem sem pensar, mas mergulhando nessa mesma imensidão negra porque nada os completa e deixam-se arrastar, contentando-se com o mínimo.
Tudo se quer com equílibrio, sábia resposta, o lixado é encontrá-lo.
Brilhante prestação de actores, brilhante texto, brilhantes indagações.
A não perder até dia 24 de Outubro no Teatro Carlos Alberto.