sábado, 9 de outubro de 2010

Desassossego

Hoje foi dia de cinema...no Teatro Nacional de S.João com o companheiro de sempre.
Esperava-nos O Filme do Desassossego do João Botelho e dois lugares num camarote muito alto, do qual, só de pensar, ainda me dá vertigens.

João Botelho fez um óptimo trabalho no que toca a adaptação do desassossego da alma, mas creio que o filme está um pouco extenso demais, como também existem certos segmentos que primam pelo exagero.
Porém, o realizador parece colocar uma espécie de lente carnal na câmara pela forma como explora o mundo interior das emoções e o corpo humano. O branco dos olhos contrastando com o vermelho dos lábios, o movimentos dos corpos, o som. O estatismo que muitas vezes pauta no filme acaba por ser um ponto negativo porque, não só alonga o filme em demasia, como tenta espremer demasiada informação do próprio momento do filme e, muitas vezes, são os momentos mais fugazes que enriquecem a película.
Bernardo Soares, aquele Bernardo Soares, ainda ecoa na minha mente. Excelente escolha de actor, e todo aquele desassossego capaz de nos ferir é estrondoso.

E somos bem capazes de louvar João Botelho por ter sido capaz de ter trazido este Fernando Pessoa perturbado para os dias de hoje, mostrando a imundície que nos persegue, que nos cerca, que nos sufoca. Aplicando as sábias palavras do escritor aos dias de hoje e de como, aparentemente, nada mudou. Isso, ou perdeu a camuflagem.

1 comentário:

Anónimo disse...

eu também fui ver ontem à noite. mas fiquei num dos balcões. Eu adorei. Também achei que foi longo e pecou por alguns "fragmentos" não se encaixarem bem no resto... por exemplo aquela cena em que estavam a cantar (tipo ópera? eu percebo pouco de música...) foi extremamente longa e não percebi qual a pertinência de a incluírem lá. Achei que os outros actores não chegavam aos calcanhares do que desempenhava Bernardo Soares, quando eles recitavam parecia tudo falso, fingido.... Enquanto que o actor que desempenhava o papel de Soares era assustadoramente real. Um desempenho fantástico (se bem que de vez em quando exagerado). Que posso dizer mais? Adorei o final. E eu, que estudei o universo pessoano, mesmo assim não estava à espera daquele final (: