sábado, 9 de outubro de 2010

A Gaivota


Já tinha ficado muito estupefacta com o Platónov que o Nuno Cardoso apresentou há cerca de dois anos, e por isso estava em ânsias para assistir a esta Gaivota Tchékoviana.

Apesar do texto se tornar um pouco decadente mais pro final do espectáculo, acompanhando o decadentismo de Costia, o espectáculo surpreendeu-me pelo jogo de luzes, cores e cenário. A junção das cores criavam imagens perfeitas que adicionadas ao estatismo que muitas vezes invade o palco originam imagens, momentos perfeitos e fundamentais para se gravar na memória. Acho que dificilmente me esquecerei do negro, do branco, do rosa a baloiçar com o pôr-do-sol como pano de fundo.
A peça acaba por juntar na mesma encenação dois tipos de estatismo: aquele que tira ritmo ao espectáculo, sendo, no entanto, maioritartiamente pautada por aquele estatismo afectuoso que aproxima ao espectador do teatro ao criar imagens que devem ser recordadas pelos nosso olhos como verdadeiras pinturas humanas.
Quanto à prestação dos actores há que apontar a revolução na imagem de Maria do Céu Ribeiro com uma renovada jovialidade e um Paulo Freixinho algo contido, mas que consegue trabalhar a sua personagem de uma forma magnânima, aliás como nos tem vindo a habituar.
De maneira pessoal identifiquei-me com a personagem de Micaela Cardoso, uma pequena de 22 anos inteiramente descontente com a vida e que se veste de preto para demonstrar essa mesma tristeza. Não que eu esteja descontente com a minha vida, mas aos 22 (ou quase) foi inevitável não olhar para aquela personagem e questionar os meus ideiais e compará-los com os dela perante uma vida que não a satifaz acompanhada por um amor não correspondido.

A Gaivota foi, de facto, um espectáculo imperdível. Um óptimo ínicio de temporada.

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