terça-feira, 26 de outubro de 2010

Hedda

Depois da Leitura no Mosteiro de S.Bento de Vitória da Hedda Gabler de Ibsen, posso finalmente dizer que concordo cada vez mais com a minha teoria de que, conhecendo previamente o texto, estamos mais atentos a pormenores na peça, aproveitando muito mais o espectáculo. Aconteceu-me com Antígona, com o Blackbird e agora com o Hedda que, no entanto, era um reescrita da Hedda Gabler, por José Maria Vieira Mendes.



Maria João Luís presenteou-nos com uma óptima representação de uma Hedda Gabler perfeitamente confiante em si e na sua influência nos outros, porém, mostrava um lado mais passional da personagem. 
As restantes personagens mantiveram o seu registo, montando um grande espectáculo - foi um prazer ver Lia Gama e Marco Delgado, cada um respirando a sua personagem de uma forma magnânima. O texto merece, sim, um grande aplauso pela maravilhosa maneira como Vieira Mendes absorveu todos os detalhes essenciais do texto original, reescrevendo uma grande obra, trazendo esta Hedda para os dias de hoje, acompanhada de indirectas perspicazes capazes de conseguir manter o público atento ao espectáculo.

Jorge Silva Melo encenou uma óptima peça em que os jogos entre personagens e cenário estão perfeitamente ritmados e sempre com alguma significação por detrás, como por exemplo, o facto de Hedda se sentar sempre no mesmo local do sofá quando sabe que gere a vida das outras personagens, quando estas recorrem a si, quando lhe dizem que a amam ou mesmo quando lhe dizem que não gostam dela, ela mantém-se impávida e serenamente altiva perante a acção, naquele canto daquele sofá encarnado tornado trono. No entanto, quando Eilert Lovborg entra em cena,  Hedda deixa cair a sua máscara e temos acesso às suas inseguranças e quando se apercebe que iria ficar presa a alguém o resto da sua vida com base numa chantagem, passa a sentar-se na outra ponta de sofá. Ela desceu de nível, passou a ser a mais fraca, terminando a sua viagem de comboio no seu escritório.

O TNSJ tem nos recebido com óptimos espectáculos esta temporada, estou ainda em choque com o facto de que o novo orçamento de Estado prevê o fecho deste ícone na nossa querida e mui nobre cidade Invicta. Creio que está na hora da cidade se rebelar e lutar pela sua cultura.

1 comentário:

Lullaby disse...

tive imensa pena de nao ter ido ver!*