quinta-feira, 31 de julho de 2008

Às tantas da manhã

Picture this:

Miúda.
Até tem cabecinha.

Uma jovem que nem que chovam porcos de rabo torcido por entre um céu nublado faz tudo para agradar aos amigos. É adepta do 'Me be a very nice girl', portanto, não tem grupo, dá-se com todos sempre de sorriso grandão nos lábios (aka Rita Catita (mas alguém se lembra desse projecto animado que dava na TVI?!).
Adiante.

Problema:
Um dia, num relâmpago de súbita sapiência repara que, por muito que lhe custe tem de ter, pelo menos, duas horinhas para si. Precisa delas para atingir a segurança que, por momentos, lhe tira a calma.

Reacções:
B-e-r-l-i-n-d-a-.
E se dizem que não está, mas parecem dizer que está mesmo.

É que já não há paciência para novelas, intrigas e sei lá mais o quê!
Parece que vivo no espaço que a única coisa que tem de vácuo, é não ter vácuo: nada se perde; tudo reflecte e faz ricochete.

Arre.
Isso e lembrarem-se que existo às tantas da manhã.
Sabe bem como palha seca e ressequida para um burro.



[ Can I be mad? ]

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Sentimento Anónimo

O que é que eu fiz de mal?” – pensou enquanto chorava silenciosamente. – “O que é que eu fiz para sem qualquer razão ser esquecida, atirada para um canto?”
Sentia-se como uma velha boneca de trapos que fora trocada pela boneca mais moderna que todos queriam.
Era um fogo de angústia que lhe consumia o interior e todo o seu pensamento se alienava numa pergunta retórica.
Porquê é que não posso ser feliz, ser estável? Porque é que sou susceptível a toda e qualquer questão que me faça pensar no que acontece à minha volta?

Sabia que não podia ficar triste ou deixar-se ir abaixo. A sua vida estava agora a seguir caminhos que se apresentavam mais reais, mais permanentes e confiantes. Não podia perder toda a confiança que ganhara até aqui.
Mas era difícil...Tão difícil...

Não passa ao lado e o coração contorce-se num dor insuportável que não abandona nada. Permanece no interior corrompendo e fatigando toda e qualquer célula que sorria.
Fazia sentir-se Cruel. Fria. Dura.

Ela não queria ser assim e chorava.
Chorava pelo passado e tinha saudades de como tudo fora, por uma vez, bom e belo. Pensava que tinha algo resistente e não suporta a ideia de estar a perder.

Por isso chora e adormece a chorar.





Quando pensa no futuro guarda o segredo de que desejava saborear o paladar de uma vingança. Porém sabe que não tem armas para tal deixando-se sucumbir por uma dor que a deixa inquieta, que lhe perturba a paz que sempre almejava e que por dias conseguiu.




(...)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Batimento

Um sonoro silêncio gritante quebrou a paz que me acompanhava de há um mês para cá. Era como se a minha vida se visse engolida por milhões de átomos fixos a uma matéria que não evolui. Uma matéria estagnada que se vai decompondo aos poucos.

Venero cada pedacinho de luz ao qual possa ter acesso. Este quarto escuro, bafiento, húmido e asqueroso prende-me a alma a um buraco negro que suga qualquer manifestação de realidade que possa confluir nesta atmosfera virtual.

A minha visão turva enevoa o meu olhar já de si fraco, que procura respirar num alívio frágil dentro deste ambiente soturno que me corrompe o sangue que me corre nas veias.

O sangue gela.

O coração pára.

A respiração torna-se em vapor.

Conquanto sou sugada por este silêncio que incendeia a minha cálida pele penso no dia de ontem. No anterior. No anterior a esse.

Sempre em antevisão.

Sugar, I want to be your honey! ‘Past is history, future is a mystery and today is a gift that’s why it is named Present!’

Rip me up, faster; make me go above and far!

Inconsciente dos meus actos vejo-me o meu reflexo na janela do sótão – é como se alguém me olhasse. Não existem traços vitais. È como se a morte me fosse consumindo lentamente. Pedaço a pedaço de carne. Carne desvitalizada sem força, sem músculo, sem encarnado.

Sento-me no chão duro, frio que não me aconchega.

Porque é que deixei as promessas voarem?

Porque é que soltei suspiros ao vento agreste de Fevereiro?

Porque é que não voltas e dizes que (da mesma forma como dizias após termos feito amor) que eu sou a tua pele? A tua continuação? A tua face desconhecida?

Fui e continuo a ser uma incógnita da história que escrevo num papel crepe amachucado e com uma caneta já quase sem tinta.

Deixo que a escuridão que salta das trevas inebriantes me leve para longe daqui e talvez hoje não sonhe. Talvez hoje o meu subconsciente não faça aparecer uma metáfora da tua cútis. Talvez hoje encontre sossego na última droga que tomar.

Quero paz, sossego mas sou um espírito revolto numa latência dormente que me confunde os nervos e não me deixa alcançar a meta da tranquilidade.

Revolvo-me mais uma vez no chão gelado. Já nem tenho forças para sequer distinguir o frio do calor.

‘Sugar, let me be your honey. I won’ kiss, I’ll suck your lips until I get all of your heat.

Lay here with me, sugar.’

Talvez me possas adoçar o meu último suspiro.

domingo, 20 de julho de 2008

" Dói Ser Platónov "

Fui ver a peça hoje (dia 20 de Julho) e levava na carteira, em jeito de bagagem, as mais variadas expectativas: li e pesquisei bastante pensando que estava pronta para ser surpreendida numa tarde de Verão.
A verdade é que isso aconteceu de facto: agora ao reler muitas das coisas que encontrei, estas fazem ainda mais sentido. Vivi a peça e isso faz com que, em parte, a compreenda.

Inicialmente existe no ar um sarcasmo e humor acutilantes e tumultuosos.
Platónov é a personagem principal de uma peça que gira em torno dele mesmo: todos o amam, mas ele ama ninguém. É o exemplo perfeito de uma frase que pode soar mais ou menos assim: “ O mundo pode amar-me, mas eu não tenho que amar o mundo!”As mulheres caem todas as seus pés, o que vai alimentando o ego a Platónov mas, ao mesmo tempo que encarna um D.Juan, leva as mulheres à humilhação, subjugando-as.

A sua relação com as personagens masculinas é uma antítese da anterior: os homens não admiram Platónov, alguns dizem aliás que nem arte para ser professor ele possui. Envolve-se em confrontos com um jovem que se recusa a ser ambicioso, colide em frente a todos contra um velho que tem coragem de o pôr em causa e trai a confiança do único rapaz que o admirava.
Ao longo da peça as restantes personagem vão evoluindo e confluindo para Platónov, com quem estão ligadas desde o princípio.

De facto, a peça move-se em torno desta personagem: uma personagem perturbada e atormentada.
Quando a peça chegou ao fim repensei no conceito que tinha deixado no post anterior: a questão paternal.
Ao longo da peça as referências ao pai são poucas, mas é ao desconstruir a personagem de Platónov que atingimos o ponto fulcral da peça.
Esta personagem é congestionada pelo facto de ter sido abandonado: é por isso, na minha opinião, que é um homem perturbador, indeciso, inseguro. A certa altura da peça as palavras ‘sacana egocêntrico’ saltaram-me à mente, pois é mesmo isso que penso que Platónov aceita ser.

Não tem qualquer respeito pelas mulheres: envolve-as num jogo sujo de paixão e quando elas pensam que ele também as ama, Platónov muda o seu discurso trazendo à tona, de novo, as suas divagações ou, até, exigências(!).
Existe na peça uma grande carga emocional governada por ambiente soturno que gira em torno de Platónov: existem alturas em que o estranhamento nos revolve e parece correr-nos no sangue. Deixamos de estar à vontade com Platónov, mas ele suga-nos a atenção cada vez mais e mais.

No entanto e apesar de toda a ‘negatividade’ que sei que tenho vindo a escrever, existe também paixão, e não é uma paixão qualquer, mas sim daquelas em que a chama de uma lamparina arde a noite toda. Pedaços cómicos também medeiam o estoicismo que vai no ar e liberta-nos um pouco.

Superou as minhas expectativas e ainda bem que assim foi: saí da sala de teatro com uma mente mais viva e à solta procurando palavras para descrever e desmontar os pedaços mais suculentos da peça. É imperfeita, de facto, mas é essa imperfeição que aperfeiçoa a peça – as restantes personagens dão vida à peça, não a deixam colar ao estigma criado por Platónov que deseja a morte, ao mesmo tempo que a evita.
É por isso que dói ser Platónov: é como estar a viver uma vida perdida em que ninguém nos ajuda – porque não queremos ajuda ou porque a desilusão é tanta que já ninguém está connosco e Platónov erra desta forma.

Foram quatro horas nada aborrecidas ou pesadas: vivi a peça como se de uma personagem me tratasse.
Recomendo vivamente para uma tarde ou noite que se querem bem passadas.

Os meus Parabéns ao Encenador Nuno Cardoso e à equipa de Actores! =)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Platónov


"Demasiado longa, demasiado violenta, demasiado imperfeita."


Não será apenas uma peça real? Uma peça que talvez possa demonstrar uma nova face da vida, independentemente de ter sido escrita há muito tempo atrás, por um Tchékhov incompreendido.
Ainda não fui assistir à peça, é certo, mas anseio por um texto que me prenda ao palco e à incessante acção de quatro horas.
Doces contradições que aparentam ser conhecidas nossas preenchem uma peça onde é uma "depravação", " ser jovem e ao mesmo tempo não ser idealista!".

Espera-me uma suave descoberta não só da mente tchékhoviana do século XIX, mas também do meu próprio ser. Sempre fui uma defensora de que o público deve encontrar nas personagens, não só uma veemente projecção do texto, mas também uma projecção de si próprias que faça o público encontrar uma identificação pessoal.
Uma peça desconhecida, que se esconde atrás de um título que não é seu por direito: há quem diga que se chamaria 'O Sem-Pai', mas na minha opinião, a peça retrata uma busca por um -eu.
Se nos basearmos no Complexo de Édipo, a peça é definitavamente isso: a procura por uma figura , ou a falta desta, que compromete a nossa identidade íntima.



Andaremos todos nós à deriva neste mundo?
Será que nos conformamos com o facto de sermos uns 'beautiful disasters'?





quarta-feira, 9 de julho de 2008

Sweetless

Talvez não seja tão doce como me dizem que sou. Tenho um bitter side que se liberta dos parâmetros pelos quais a minha alma se rege.

Às vezes canso-me de repetir as mesmas palavras sob contextos diferentes.
Mudei.


E de cada vez que inspiro o cheiro a maresia que me tem acompanhado nos últimos dias penso no que me tem acontecido.
Porque será que me sinto mais segura de mim? Mais confiante?
Mais mulher mas com o mesmo sorriso de menina?


"Sweet, but bitter"

It just feels right!


Quero ser a mesma, mas não quero ser previsivel.
Quero ser uma partida. Um jogo de esconde-esconde.
Quero ser perceptível, mas ao mesmo tempo, um desafio.


O ar de Verão é o mais doce do ano.
Deixa-me inspirada.
Amante da vida - como uma vez 'alguém' me disse - 'addicted in life'.
E os meus olhos de chocolate brilham à luz de uma calma que me chega através de todos os meus poros.

:)

terça-feira, 8 de julho de 2008

Flying without wings


Soltei as amarras.






VOEI!








Navios passam no alto do meu mar e eu deixo-os passar!
Não quero embarcar, nem descobrir um outro mundo.
Estou bem no meu. Neste meu pequeno aconchego.
Confiante. Mais Sorridente do que o habitual.

É verdade! Estou finalmente feliz!
Atingi a paz que procurava, encontrei metade do meu ser.

Será que cresci?
O mundo mudou aos meus olhos.

Respiro um novo ar.
Sou eu.
Acabei a primeira etapa de um labirinto.





"Everybody's looking for that something
One thing that makes it all complete
You find it in the strangest places
Places you never knew it could be
Some find it in the face of their children
Some find it in their lover's eyes
Who can deny the joy it brings
When you found that special thing
You're flying without wings

Some find it sharing every morning
Some in their solitary lives
You find it in the words of others
A simple line can make you laugh or cry

You find it in the deepest friendship
The kind you cherish all your life
And when you know how much that means
You've found that special thing
You're flying without wings

So impossible as they may seem
You've got to fight for every dream

'Cause who's to know
Which one you let go
Would have made you complete

Well, for me it's waking up beside you
To watch the sunrise on your face
To know that I can say I love you
In any given time or place
It's little things that only I know
Those are the things that make you mine

And it's like flying without wings
'Cause you're my special thing
I'm flying without wings

And you're the place my life begins
And you'll be where it ends
I'm flying without wings
And that's the joy you bring
I'm flying without wings"


I'm flying without wings right now.
I'm happy!