quarta-feira, 23 de julho de 2008

Batimento

Um sonoro silêncio gritante quebrou a paz que me acompanhava de há um mês para cá. Era como se a minha vida se visse engolida por milhões de átomos fixos a uma matéria que não evolui. Uma matéria estagnada que se vai decompondo aos poucos.

Venero cada pedacinho de luz ao qual possa ter acesso. Este quarto escuro, bafiento, húmido e asqueroso prende-me a alma a um buraco negro que suga qualquer manifestação de realidade que possa confluir nesta atmosfera virtual.

A minha visão turva enevoa o meu olhar já de si fraco, que procura respirar num alívio frágil dentro deste ambiente soturno que me corrompe o sangue que me corre nas veias.

O sangue gela.

O coração pára.

A respiração torna-se em vapor.

Conquanto sou sugada por este silêncio que incendeia a minha cálida pele penso no dia de ontem. No anterior. No anterior a esse.

Sempre em antevisão.

Sugar, I want to be your honey! ‘Past is history, future is a mystery and today is a gift that’s why it is named Present!’

Rip me up, faster; make me go above and far!

Inconsciente dos meus actos vejo-me o meu reflexo na janela do sótão – é como se alguém me olhasse. Não existem traços vitais. È como se a morte me fosse consumindo lentamente. Pedaço a pedaço de carne. Carne desvitalizada sem força, sem músculo, sem encarnado.

Sento-me no chão duro, frio que não me aconchega.

Porque é que deixei as promessas voarem?

Porque é que soltei suspiros ao vento agreste de Fevereiro?

Porque é que não voltas e dizes que (da mesma forma como dizias após termos feito amor) que eu sou a tua pele? A tua continuação? A tua face desconhecida?

Fui e continuo a ser uma incógnita da história que escrevo num papel crepe amachucado e com uma caneta já quase sem tinta.

Deixo que a escuridão que salta das trevas inebriantes me leve para longe daqui e talvez hoje não sonhe. Talvez hoje o meu subconsciente não faça aparecer uma metáfora da tua cútis. Talvez hoje encontre sossego na última droga que tomar.

Quero paz, sossego mas sou um espírito revolto numa latência dormente que me confunde os nervos e não me deixa alcançar a meta da tranquilidade.

Revolvo-me mais uma vez no chão gelado. Já nem tenho forças para sequer distinguir o frio do calor.

‘Sugar, let me be your honey. I won’ kiss, I’ll suck your lips until I get all of your heat.

Lay here with me, sugar.’

Talvez me possas adoçar o meu último suspiro.

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