Faz exactamente hoje uma semana que fui ver esta peça ao TeCa, esse lugar costumeiro. Ao contrário de tudo a que tenho estado habituada, este espectáculo, tinha como actor o já conhecido encenador Nuno Cardoso e, como encenadores, tínhamos Luís Araújo, Victor Hugo Pontes e José Eduardo Silva.
Fiquei muito surpreendida com toda a construção do espectáculo, como podem perceber pelo título, eram 3 textos encenados por cada um dos destacados encenadores, em que entre eles havia a clara separação do trabalho de cada um.
O primeiro foi O Canto do Cisne por Luís Araújo em que nós, público, nos sentamos no chão do TeCa. Aspecto fenomenal, à partida, contudo o encenador apesar de dar este trago a esta encenação, criou,a meu ver, uma encenação mais 'fria', clássica e impessoal. O texto é arrebatador, mas L.A. usou um tratamento de afastamento que, embora o público estivesse ali sentado no chão, o actor vinha numa espécie de onda que parecia reconhecer o público e, de repente, parecia sentir que estava sozinho no espaço.
Este espectáculo termina, o público tem a oportunidade de se sentar na plateia, e aí começam os Malefícios do Tabaco, uma conferência que acaba por ser sobre tudo, menos o tabaco. Mais uma vez o aspecto humano do texto é tratado, mas Victor Hugo Pontes recria o texto, cria imagens fantásticas em cima do palco e joga imenso com tudo a que está ao seu dispor.
Por último surge-nos de novo O Canto do Cisne mas pela mão de José Eduardo Silva. Quem pensa que esta encenação poderia perder impacto, está enganado. Confirma-se uma vez mais a minha teoria, de que, se conhecermos o texto primeiro, o espectáculo acaba por se tornar numa óptima experiência. JES monta um óptimo momento de intimicidade para com o público. Estamos na mesma escuridão em que se encontra o actor, sentimos as suas palavras a queimar na pele e toda a imagem criada pelo texto se ergue no corpo de Nuno Cardoso ali, postrado à nossa frente, num semi-monólogo. Digo semi, porque os excertos não são monólogos, mas encenados como se fossem.
E Nuno Cardoso arrebatada a alma de cada um como actor.
No final acabamos por entender que o espectáculo é vicioso, isto é, cada peça está entrelaçada com a seguinte e seríamos capazes de estar um dia inteiro a ver um actor desabafar sobre a sua vida, o pós-peça e o retorno do espectáculo.
Tchékov tem no seu teatro uma espécie de aproximação ao público, como Brecht, o público pensa nas suas peças, tem uma função objectiva. O que acabou por acontecer nesta encenação: a partir de uma imagem tanto o público como o actor estão ali, lado a lado. Naquele espaço de ficções.
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