domingo, 28 de novembro de 2010

sidekick

Desde que me lembro que sempre me senti o sidekick de alguém. Uma vez estava na escola, algures com 13/14 anos (?) e estava sentada com uma das miúdas mais populares da escola que, só por acaso, era da minha turma, e estávamos a conversar antes de irmos para a aula de educação física. Nisto, chega um dos rapazes mais bonitos da escola e sentou-se ao nosso lado a falar com a minha amiga, a ignorar-me por completo (coisa à qual estava eu mais que habituada) e sei que, já não me lembro bem, ela diz:

«Oh, eu? A Catarina é que gira.»

E riu-se para mim. E eu fiquei mesmo encabulada até o rapaz responder:

«É mesmo. Linda como o sol....»

*pausa. o meu coração acelera.*

«...nem se consegue olhar de frente! hahahahahaha»

Sinceramente, já não me lembro como reagi, mas lembro-me de chegar a casa trístissima e de nesse dia decidir que no ano seguinte ia mudar de escola.

Desde aí sempre me senti nas sombras dos meus amigos. Quando saía com uma das minhas primas mais velhas, todos olhavam só para ela. Ou quando saía com a minha madrinha, todos brincavam com o facto de eu ser roliça. Pode não parecer, mas isto sempre me tornou insegura. Pelo menos, a nível emocional, porque é como li algures numa crónica das revistas do JN, eu acabo sempre por ser a gordinha, a amiga engraçada de todas as ocasiões, aquela que quando está entre os amigos transparece que está sempre tudo bem, mas que na realidade, quando chega a casa...nada está como poderia estar.

O meu coração torceu-se, novamente hoje, quando,  no Sombras, as palavras da Emília Silvestre rimbombaram:

"Desculpe escrever-lhe tanto sem o conhecer, mas o senhor não vai ler isto, e mesmo que lesse nem sabia que era consigo e não ligava importân­cia em qualquer caso, mas gostaria que pensasse que é triste ser marreca e viver sempre só à janela, e ter mãe e irmãs que gostam da gente mas sem ninguém que goste de nós, porque tudo isso é natural e é a família, e o que faltava é que nem isso houvesse para uma boneca com ossos às avessas como eu sou, como eu já ouvi dizer. (...) Mas eu não consigo nada do que quero, nasci já assim (...) o senhor que anda de um lado para o outro não calcula qual é o peso de a gente não ser ninguém(...)"


 Carta da Corcunda para o Serralheiro, Fernando Pessoa

1 comentário:

Nelson Soares disse...

Pous eu acredito nos sidekicks que podemos dar à vida que levamos... Nas segundas e multiplas oportunidades... No sorrir. Quando e onde quer que seja. E já assim se cantava: o maior amor de todos...