terça-feira, 22 de junho de 2010

até que dei por mim a con(in)vocar.

 INVOCAÇÃO I

Adoeço de ti em meu silêncio.
Poiso o cigarro e fico a penas a ouvir a tua voz:
Porquê redescobrir-te agora? Esta febre súbita que me toma:
esta planta que se me instalou no ventre e as bre as suas pétalas,
uma a uma, venenosas e lentas, viciosas e doces.
Esponjosas e doces...


INVOCAÇÃO II

Recorro à tua imagem.
As tuas mãos que volteiam no profundo e liso vidro da memória.
A tua boca que ainda desconheço, ou já esqueci, ou só nos dedos lembro.
Desesperado, talvez, mas tão doce e tão lento, este vício de ti que agora começo.
Retomo?
Eis a vertigem da tua língua, enquanto a ignoro e a mim me venço.


INVOCAÇÃO III

Que lentas piscinas os teus versos...
Nelas me afundo (refugio?) a reencontrar a sabedoria do corpo. Dos nervos. Das aves. A sua vertiginosa água envolver-me os membros, a tomar-me a boca.
Que manso suicídio o dos teus olhos...

13/11/71
in Novas Cartas Portuguesas


                  

1 comentário:

Paulo Brás disse...

adoro «Que lentas piscinas os teus versos» e eu já todo contente a pensar que era um verso teu. ok, tenho de ler as cartas, as novas e as outras.