INVOCAÇÃO I
Adoeço de ti em meu silêncio.
Poiso o cigarro e fico a penas a ouvir a tua voz:
Porquê redescobrir-te agora? Esta febre súbita que me toma:
esta planta que se me instalou no ventre e as bre as suas pétalas,
uma a uma, venenosas e lentas, viciosas e doces.
Esponjosas e doces...
INVOCAÇÃO II
Recorro à tua imagem.
As tuas mãos que volteiam no profundo e liso vidro da memória.
A tua boca que ainda desconheço, ou já esqueci, ou só nos dedos lembro.
Desesperado, talvez, mas tão doce e tão lento, este vício de ti que agora começo.
Retomo?
Eis a vertigem da tua língua, enquanto a ignoro e a mim me venço.
INVOCAÇÃO III
Que lentas piscinas os teus versos...
Nelas me afundo (refugio?) a reencontrar a sabedoria do corpo. Dos nervos. Das aves. A sua vertiginosa água envolver-me os membros, a tomar-me a boca.
Que manso suicídio o dos teus olhos...
13/11/71
in Novas Cartas Portuguesas
1 comentário:
adoro «Que lentas piscinas os teus versos» e eu já todo contente a pensar que era um verso teu. ok, tenho de ler as cartas, as novas e as outras.
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