Depois de ter trabalhado o texto de Sófocles no semestre passado, confessei-me ansiosa para ver a peça em cena no Teatro Nacional de S.João, ainda para mais sob a mão do Nuno Carinhas.
Mas que peça, meus senhores, QUE PEÇA!
O cenário deixa qualquer boquiaberto, com a excepção de uma coluna pra qual, durante todo o espectáculo, não descobri utilidade. Mas aquela escarpa... Que diferença faz à pose dos actores. A meu ver não só torna a interpretação mais pujante, mas ajuda na construção de um espectáculo magnificente.
Da interpretação dos actores prefiro destacar, desta vez, a grandiosa Emília Silvestre, a Maria do Céu Ribeiro e, mais uma vez, o Paulo Freixinho. Continuo a dizer que tenho tido o privilégio de ver este actor 'evoluir' e perceber que também apostam cada vez mais nele. Ele faz tudo, não exagera, ele vai pra lá dos limites da interpretação. Adoro-o.
A forma como Nuno Carinhas encena o Coro também me surpreendeu, adoro o efeito da voz conjunta, da presença imponente que aquele grupo de pessoas representa, mas onde apenas consigo destacar a Emília Silvestre porque foi ela através de um olhar penetrante, de uma voz extraordinária, de um jogo de corpo e rosto fantástico que fez surtir uma espécie de burburinho na minha pele e que julgo ter visto ser espalhado pela audiência.
Custa-me, no entanto, fazer estas divisões porque estou a lembrar-me do quanto gostei de ver o António Durães e o Jorge Mota, mas outros actores tiveram uma prestação mais contida, apesar da divisão de papéis estar muito bem conseguida. Quero é destacar uma espécie de desilusão: Alexandra Gabriel. Depois de a ter visto como Morte no Breve Sumário da História de Deus, só consigo balbuciar meras palavras para a sua Ismena. Não conseguiu muito bem, mesmo estando no Coro a actriz parece perder a luz que tinha aquando o outro espectáculo.
A nível do jogo de som e luzes, não gostei propriamente da forma como coordenaram a luz no espectáculo e do som penso que só deveria ser usado em certos momentos fulcrais, havendo momentos no espectáculo em que o som faz toda a diferença.
Outro ponto de enorme relevância são os figurinos que são tão perfeitos e que mostram, perfeitamente, a tentativa de modernização da peça mantendo a sua dimensão histórica de passado.
Gostei especialmente de terem modernizado um pouco o texto, mas creio que perde um pouco da sua dimensão política. E acho que cada Ode do Coro devia ter mais importância no espectáculo, sendo o Coro uma personagem fundamental na tragédia.
No final da noite saí de sorriso nos lábios, consegue-se contar pelos dedos as vezes que saio assim satisfeita depois de uma peça de teatro.
Muito, muito bom.
Parabéns a todos!
E recomendo-a a todos vocês!
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