Hoje, dia da sua última apresentação, fui revê-la ao TeCa.
A história de uma jovem que se vê como um objecto aos olhos de um príncipe obstinado e cheio de caprichos é bem capaz de nos aturdir a atenção. É uma peça sobre O poder e a forma como podemos usar esse poder em nosso proveito, em proveito das nossas vontades e desejos.
A encenação, a cargo de Nuno M.Cardoso, deixa-se levar pelo simples que se torna magnânimo ao longo da peça através da interacção dos diálogos entre actores que prestam riqueza ao espaço.
Albano Jerónimo, uma vez mais, conseguiu deixar-me boquiaberta, não pela sua beleza e muito menos pelo facto de ter a meu lado, na primeira fila, alguma da sua família, mas sim pela sua maravilhosa interpretação de Príncipe. Conquista-nos pelos primeiros movimentos em palco e vamos ficando do lado dele, embora seja a luxúria o seu maior pecado.
Entre outras surpresas ficaram Dinarte Branco e Rita Calçada Bastos cujos Marquês de Marinelli e Condessa Orsina, respectivamente, nos infligem dois lados: o do bem e do mal. Bem, nem tanto assim, mas no combate entre as duas personagens em palco, fui incapaz de deixar Marinelli, como também me incapacitei de ficar do lado de Orsina que busca o amor.
Como tive a hipótese de rever a peça pude ver no mesmo papel duas actrizes diferentes, uma vez que Ana Bustorff está doente e Teresa Sobral tomou o lugar de Cláudia Galotti.
Ora apraz-me dizer que preferi muito mais Teresa Sobral, embora estivesse em regime de leitura encenada, do que Ana Bustorff. Que me perdoem os críticos, admiradores ou pessoas menos leigas que eu, mas a Ana Bustorff tem uma interpretação histérica. Sempre teve.
De todas as séries em que a vi sempre teve um comportamento desequilibrado e nesta peça não lhe passou ao lado.
Quero também falar de Teresa Tavares que, e mais uma vez invoco a minha (ainda alguma) leigacidade teatral, mas foi a única personagem à qual não consegui aceder aos sentimentos. Pareceu-me que todos os actores bebiam as falas das suas personagens, tornando-as reais, mas a Teresa tinha uma dicção estranha. Parecia que estava a narrar as suas falas num timbre muito gutural.
Gostei da peça, apesar de achar que um pequeno intervalo também fazia um pouco de falta.
Emilia Galotti é uma peça de condutas, de revolução, de voz. Não podia deixar de me passar ao lado sendo o grande ímpeto do Teatro Alemão pelo qual me deixo ficar cada vez mais embevecida.
2 comentários:
Também tive a oportunidade de assitir à peça no seu último dia de exibição (curiosamente na mesma fila, lugar D14).
Ambos concordamos quanto à interpretação do Príncipe Gonzaga. A verdade é que Albano Jerónimo pertence já aos privilegiados cujo simples nome em cartaz é garantia de excelente trabalho (relembrar o Mercador de Veneza, por exemplo, para não mensionar trabalhos televisivos e cinematográficos).
A verdadeira surpresa foi realmente a interpretação de Teresa Sobral, que teve a seu cargo o dificil papel de substituir outra actriz num desempenho que diria brilhante, certamente sem a mesma preparação a que Ana Bustorff teve direito (Não, não vi para poder comparar).
Quanto a Teresa Tavares, convém realçar a dificuldade de ser uma actriz ainda em formação, rodeada de actores de provas dadas, num papel de grande relevo numa peça que é sem dúvida um magnífico embaixador do Teatro Alemão.
Quer-me parecer que a dificuldade no acesso aos sentimentos de Emilia é já uma característica da própria, mas remeto-me à minha muito maior leigacidade teatral, que mais habituado estou aos desempenhos na grande tela.
Termino com sugestão do filme "The Reader" (do ano passado e com uma nada inocente e casual referência à peça) e o manifesto apoio à necessidade do intervalo para digestão.
Olá Dani!
Eu estava no D1!hehe
Sim, concordo contigo no que escreves sobre o Albano Jerónimo... Eu também o vi no 'Mercador de Veneza' (3 vezes, actually) e de cada vez que via, ficava mais impressionada com o seu trabalho.
No que toca à Teresa Tavares também concordo contigo, mas deixa-me dizer-te que o Nuno M. disse algures que a tinha escolhido por ser uma actriz jovem, madura e com uma extenso trabalho que a permitia ter uma técnica incrível. Não desfazendo da rapariga, que é muito boa naquilo que faz...Mas o não consegui 'comunicar' muito bem com aquela 'Emilia'... Quanto à questão dos sentimentos eu acredito que tínhamos mesmo de lhes aceder, para percebemos até que ponto ela se sentia como um objecto nas mãos do príncipe.
Quanto à tua sugestão vi o filme este Verão e também li o livro. Já não me recordo se tenho algum post dedicado a isso. Mas gostei bastante, foi também muito intenso.
Beijinho*
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