quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Aperta-Parafusos (*)

Quando penso em dramaturgia alemã o primeiro nome que salta à cabeça é o de Bertolt Brecht e o seu teatro épico. Porém, ontem, um novo nome foi acrescentado à minha tão recente cultura dramaturga: Marius von Mayenburg.
Acompanhado de alguns detalhes que me lembraram Caryl Churchill, este autor através de uma ironia e de um humor mordazes é capaz de focar assuntos muito em voga na nossa sociedade dos dias de hoje. Um desses exemplos é o culto da beleza que chega acompanhado por um mito de Narciso, realçando uma crítica à apreciação de valores apenas superficiais.
O FEIO trouxe-me ontem, através de uma belíssima e grande actuação de quatro actores, um mito de Narciso revigorado e onde o 'amo-me' é um dos motes finais e a deter. A peça não podia ter vindo numa altura melhor, numa altura em que estou a aprender a reapreciar valores que me dizem que em primeiro devo gostar de mim e só depois me devo preocupar com os outros, ou seja, a ideia de mudarmos pelo que os outros dizem/fazem/pensam é completamente proibitiva já que nos coíbe de fazermos algo que nos dá prazer, pois temos as vontades de outros em primeiro.

O Paulo Freixinho demonstrou, uma vez mais, que é um grande Actor. Aquele homem tão depressa está de olhos arregalados e a gritar, como no momento a seguir já está a sussurrar... E o melhor é que somos levados com ele nessa viagem de misto de sensações e emoções.
E deixando-me uma vez mais perplexa, o Pedro Frias comprova a minha teoria de que não é um palco que faz um actor, mas sim um ACTOR que preenche um palco.


Adorei e saí de lá revitalizada e ainda completamente alucinada pela grandiosa coreografia que prestou dos melhores momentos à peça e maravilhada com uma óptima encenação em que tudo parecia ser pensado ao pormenor pelo encenador João Cardoso.

Tenho de destacar que 24 horas volvidas ainda dou por mim a pensar em pormenores da peça. Foi das experiências mais intensas que já vivi.


O Feio de Marius von Mayenburg

no Teatro Helena Sá e Costa até dia 27 de Setembro.

[da esquerda para a direita: Paulo Freixinho, Jorge Vasques, Rosa Quiroga e Pedro Frias]



(*) da peça.

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