Um espectáculo completo, é o que se pode pensar depois de se assistir ao mesmo. Momentos músicais muitíssimo originais e interpretações fantásticas, formaram um óptimo espectáculo no qual não houve uma única pausa. Rodeados por barulhos de quotidiano, por um movimento perene - actores que subiam e desciam escadas, entravam e saíam pelo cenário - a peça bilingue transformava a sua acção numa autêntica bola de neve.
Através da voz de Pertência escutamos histórias que nem sempre têm um final feliz e é ao longo da peça, que retrata os maus tratos infantis e o tráfico de crianças, que vamos desvendando quem é esta personagem e que relação possui com todas as outras.
Esta peça fez me por em questão as aparências de todos e cada um de nós e, inclusive, a nossa relação para com o nosso lugar, para com os nossos. Algo que hoje em dia sinto cada vez mais: a obssessão com a posse, porque todos temos de ter alguém, todos temos de pertencer a algum sítio, senão contamos como mais alma penada nesta soma que é a vida.
Roçando o grotesco a peça ganha pela forma como embeleza o texto através da encenação e da interpretação e de como, ainda assim, obriga o espectador a pensar, a querer descobrir todo o enredo que a acção encobre.
Um óptimo momento teatral que soube coordenar em pouco menos de duas horas um mundo contemporâneo, com as suas pessoas e os seus temas, num pequeno espaço como um palco.
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