Comecei este ano com O Mercador de Veneza e acabei-o com algo completamente diferente: O Breve Sumário da História de Deus.
Através de um cenário simples mas enriquecido de um certo significado, Nuno Carinhas encenou esta peça de Gil Vicente, não sendo o melhor espectáculo que já vi, mas sem dúvida dos mais inquietantes.
Através de uma abordagem que abarca toda a história primordial da Bíblia, vemos o ínicio dos ínicios com um Adão e Eva a sucumbirem ao pecado levados pela persuasão de Satanás.
Vimos Abel, Abraão, Isaías, Moisés, David, Job, S.João Baptista e Jesus Cristo e compreendemos que desde a criação o Homem sempre foi controlado pelo Tempo, pelo Mundo e pela Morte.
Com um jogo de luzes, som e coreografias fantásticos esta peça não pode deixar de ser um marco reiterado pelo TNSJ que se assume, cada vez mais, como dos maiores teatros nacionais.
Quanto aos actores tenho de confessar que a presença do Paulo Freixinho em palco me deleita. Ele é um one-man-show! Posso dizer que desde que o vi como Eugénio n'O Café de Goldoni que assisti a um grande crescimento como actor. Desde O Café de Goldoni e O Café de Fassbinder passando por Platónov, pel'O Mercador de Veneza, começou a conquistar-me como Kragler na Tambores na Noite e levou-me por completo n'O Feio, mas como Satanás... Ninguém lhe tira o palco.
Ele preenche, sem sombra de dúvida um palco com mil e uma façanhas, vozes, sons! Inacreditável!
É de louvar, também, Pedro Almendra que só vi em palco nesta segunda vez, mas que através de uma maravilhosa interpretação como Mundo sabe, sem dúvida, cativar uma plateia e fazer jus ao seu papel.
E claro, é sempre bom rever o Pedro Frias, há algo na sua aura que preenche a atmosfera e mesmo que seja por pouco tempo, ganhamos sempre algo com a sua presença.
Não me posso esquecer dos restantes actores fantásticos, um corpo de cena absolutamente fenomenal, dos quais ainda consigo destacar: António Durães, José Eduardo Silva, João Pedro Vaz, João Cardoso e Lígia Roque.
E em jeito de conclusão queria prestar a minha maior admiração à actriz Alexandra Gabriel que transmite o maior inquietamento desta peça, uma morte que expande uma inquietude deixando-nos bem perturbados.
O único ponto contra foi o facto de não ter havido uma grande assistência.
Esta peça foi a melhor maneira de passar uma fria tarde de Domingo, e também a melhor maneira de ser a primeira peça que a minha mãe viu no TNSJ. :)
Cerrado por uma névoa foi assim que o meu último dia de teatro deste ano terminou, prometendo uma grande esperança que o ano que se aproxima traga muitos mais, de preferência com direito a mais momentos mui delicodoces.
E ainda bem que nasci por esta época, se acaso tivesse nascido na Grécia Antiga seria uma pessoa muito deprimida como diz o meu professor do seminário de Teatro Grego, uma vez que naquele tempo não se repunham peças e ninguém as revia, tal qual eu adoro de fazer, simplesmente porque é sempre bom revivar outras vidas, outras almas e experienciar novos sentimentos.
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