[ (A)tentados, Martin Crimp ]
" - O que eu quero dizer é que podemos ver - temos de admitir: podemos ver que há alguma coisa que morreu.- Alguma coisa o quê?
- Morreu. Alguma coisa/morreu.
-Ela acha que falhou.
- Exactamente. Ela acha que o seu trabalho falhou.
- Mas também pessoalmente - o seu trabalho, sim - mas também pessoalmente ela acha que alguma coisa, alguma coisa dentro dela morreu.
- E morreu?
- Morreu o quê?
- Essa coisa, essa chamada coisa dentro dela.
- Que chamada coisa?
- A coisa, a coisa, a coisa, a coisa/ dentro dela.
- No seu caso, sim, digamos que morreu. Digamos que tudo aquilo por que ela sempre trabalhou - toda a sua vida- morreu. (riso) Digamos que a sua vida até agora foi, o quê? O quê? O quê? Como um...
- Livro?
- Como um livro, como um...
- Fio?
- Como um livro, como um fio, como um...
- Barco?
- Como um barco. Digamos que toda a sua vida - sim, muito bem - até agora foi como um barco, como um pequeno barco...
- À deriva.
- ... alegremente à deriva dentro de um lago. Mas agora ela sente que a água...
- Começa a entrar pelas fendas?
- Insinuando-se furtivamente.
- Insinuando-se furtivamente onde?
- No seu coração partido?
Riso.
- O seu coração -sim, absolutamente - partido - exactamente. Ela sente a água do lago insinuando-se furtivamente/no seu coração partido. "
Para mim, ele tem alma de poeta.
(*)Alter Ego (outro ego), Klepht
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